sábado, 25 de junho de 2016

Sigética


Sigética
O tempo é fluido
Como o ar...
A sanidade é rarefeita.
E os efeitos da loucura
São mais doces do que as sombras
Da realidade.

Há sempre nuvens escuras lá fora
Há sempre um silêncio inóspito aqui dentro
Será possível domá-lo?
Antes o vazio lúgubre
Que a tristeza travestida
Que traz uma morte lenta, dolorosa e covarde.
As pessoas morreram e continuam andando, sorrindo (débeis).
E estão todos proibidos de contar-lhes a verdade...

Que verdade?

O tempo é fluido
Como o ar
A sanidade é rarefeita
Os sorrisos obtusos
E só o silêncio, às vezes,
É um bom lugar
(Pelos menos, cá ainda se ouvem idéias e fantasias e elas contam um pouco de verdade).

Salvador, 25 de junho de 2016.
(Releitura de texto de 17 de agosto de 2009)
Carolina Grant

sábado, 4 de junho de 2016

Alice e o Labirinto



Alice e o Labirinto
(Verdades e Ilusões)

"Rápido, Alice! É tarde!
A realidade a espreita e persegue,
O sonho é presságio,
O momento é fugaz.
Corra, Alice, corra atrás!
Siga o seu rastro,
O sonho!
É presságio,
É momento,
É fugaz!
Corra, Alice, corra!"

Seguiu a passos rápidos de criança,
E, em branco, apressada, esvoaçava.
Deixava um sutil rastro de esperança
E um doce perfume de ilusões onde passava.

De relance, eu a vi e observei com ar sombrio,
Porque a dúvida, velha amiga,
Em meu peito crepitava.

Seguiu, então, por um labirinto tortuoso em cores pálidas.
Quando, de longe, num relance, percebi que me chamava.

"Rápido, Alice! É tarde!
A realidade a espreita e persegue,
O sonho é presságio,
O momento é fugaz.
Corra, Alice, corra atrás!
Siga o seu rastro,
O sonho!
É presságio,
É momento,
É fugaz!
Corra, Alice, corra!"

Corri, escorreguei e percebi
Que pela toca do Coelho adentrava.
Quanto mais eu caía e mergulhava,
A realidade escorria para cima e pelos cantos,
E os fragmentos de verdade, eram tantos!,
Se desfaziam em memórias, ilusões e estilhaços.

Bati no fundo estilhaçado das verdades,
Que em cacos de espelhos confundiam a realidade,
Aumentavam, afunilavam, distorciam
Inebriavam, enganavam e seduziam!

Confusa, então, eu perguntava:
"Onde está o Coelho Branco a me guiar
Neste labirinto de ilusões e fantasias?"
"Não está mais, minha menina" - alguém falava
"Aproxime-se, sente-se, venha experimentar
Tenho bem aqui comigo a solução para lhe dar".

Lá estava, era ela, era a Alice verdadeira quem falava,
Numa mistura surreal de Coelho Branco, bailarina e Fada Azul,
A calmaria em pessoa, parecia, também, a Bruxa Boa do Sul,
Que com seu jeito suave e sutil me convidava.

Por de trás de suas palavras uma espessa névoa ela lançava
E, mais uma vez, sem perceber, em palavras eu escorria.
De um jeito estranho e sério ela sorria,
E mais verdades, aos poucos, eu derramava.

Porém, quando uma hora dei por mim,
Era com aqueles mesmos cacos que ela me apunhalava.
"Espere, um momento, o que é isso, como assim?"
Em pânico, quase aos prantos, eu gritava.

Com movimentos firmes, verdades-armas na mão
Pedaço por pedaço em meu peito ela enfiava
"Não tenha medo, não", fundo nos meus olhos ela olhava,
"Você vai ficar muito melhor, confia em mim", ela clamava.

Sair dali o mais depressa eu procurei,
Mas em areia movediça o chão se transformou.
"E agora, o que eu faço", em desespero eu pensei,
Pois sendo arrastada para ainda mais fundo nesse abismo eu estou.

Então os ecos do Coelho Branco novamente eu ouvi
E para dentro do abismo daquela toca
Talvez sem volta
Exausta. Entregue.
Eu segui.

"Rápido, Alice! É tarde!
A realidade a espreita e persegue,
O sonho é presságio,
O momento é fugaz.
Corra, Alice, corra atrás!
Siga o seu rastro,
O sonho!
É presságio,
É momento,
É fugaz!
Corra, Alice, corra!".


04 de junho de 2016
Carolina Grant