sábado, 3 de agosto de 2013

A maior de todas as "roller coasters"



A maior de todas as roller coasters

E então fez-se o silêncio.
A casa respirava tranquila, mas pesava.
Havia o peso infinito das lembranças.
E, de trás das cortinas, furtivo, escapou um riso alegre... leve.
Um riso que roubou uma lágrima, que roubou um sorriso, que roubou um amor,
Que se espalhou por todos os cantos, misturou-se a todos os cheiros e se foi dissipando, efêmero.
Porque todas as paixões são efêmeras e cheiram a suor e perfume.
Porque todas as paixões são efêmeras e deixam um gosto agridoce na boca.
Porque todas as paixões são efêmeras e deixam uma saudade-vontade (nos olhos, nos lábios, nos (a)braços, no corpo, na alma).
São efêmeras e deixam.
Escapam.
E tudo o que se quer é um novo bilhete 
Para a maior de todas as roller coasters...



[Post-Scriptum
E tudo isso é porque (no fundo)
há sempre uma esperança 
de que desta vez seja 
a "viagem" definitiva
e o trem descarrilhe 
e siga outros (infinitos) rumos...].



03 de agosto de 2013
Carolina Grant

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Poema de areia (ou... "Vem a chuva...")


Poema de areia (e fim)

Vem a chuva...

Vem a chuva e lava a alma.

        Livra...
                  Leva...
                            Lava...

Vem a chuva e lavra a alma.

                              Cura...
                  Cuida...
 (a)Calma...

Vem a chuva e leva a alma... (em ondas)

        Lívida...
                    Livre...
                              Leve...

                               e(n/m)fim.
                   (e)terna.
  (e) plácida.

Vem a chuva... e... vai a alma...

                                   a
                                   (c)
                                     a
                                       l
                                        m
                                          a
                                            .
                                             .
                                              .

Vai a chuva... e (em gotas, grãos) acaba.

                                                             (eterniza e embala a alma).      ...        ..       .


Poema de areia (e fim) (ou... "Vem a chuva...")
26 de junho de 2013
Carolina Grant

domingo, 23 de junho de 2013

Contos de Werewolf... - A Sacerdotisa da Lua e o Homem-Lobo ou a Lenda da Superlua


Contos de Werewolf... 

A Sacerdotisa da Lua e o Homem-Lobo ou a Lenda da Superlua

Ela chegou vestida de luar*. A pele branca refletia a luz intensa daquele luar exuberante, extraordinariamente mais forte, mais intenso e maior em noites como aquela. Ela tinha também uma leve penugem prateada, reluzente, típica daquelas de sua espécie. O cabelo escuro contrastava com a pele clara, longo, macio e esvoaçante como suas roupas. Tinha porte, caminhava firme e olhava adiante, acima de todo o resto. Parecia ser Ela a uivar no alto e à beira daquele imenso penhasco, mas estava apenas observando todo o Vale do Loire (como era conhecida aquela região) e o fenômeno da Superlua que a atraíra até ali, como se a hipnotizasse.

Mas não era exatamente a silhueta contra a lua e a presença, ou mesmo o porte, daquela mulher que o perturbava. Não era isso. Era o cheiro. O cheiro de presa, de fertilidade, que o atraíra até ali, para além da Lua. Era também para isso que estava ali, hoje como em todos os outros anos, mesmo que ainda não tivesse ido até o final, e como muitos antes dele. Mas havia algo mais, havia uma estranheza naquela quietude que o eriçava e percorria a espinha tal qual pequenos fenômenos de estática. Havia uma estranha eletricidade no ar. Algo parecia estranhamente... diferente...

***

Mesmo sem olhar Ela notara a presença dele. Mais um e com esse também não seria diferente. Ela poderia ser punida por aquilo, por violar as regras que lhe haviam sido impostas e a muitas antes dela, mas era diferente e pagaria o preço. Um já fora, não se submeteria assim. Estava pronta e aquela lua, a mesma que a fascinara desde sempre, estranhamente, era aquela mesma lua que a tornava forte assim. Estranhamente forte e decidida...

***

Enquanto chegava mais perto, Ele sentia os seus instintos aflorarem ainda mais. Era o cheiro que fazia isso, Ele sabia. E a Lua, claro. Havia uma energia, uma ferocidade, uma suscetibilidade extrema ao cheiro, ao som, ao tato... Era tão fácil se entregar àquilo e fazer o que precisava fazer, obtendo aquele insano e incomensurável prazer animal, tão natural quanto instintivo, mas, e isso também era estranho, como tudo o mais naquela noite, naquele momento, naquele particular momento na história de uma tradição muito, muito antiga, Ele nunca conseguiu se entregar plenamente àquela irracionalidade-racional quase científica. Talvez Ele fosse o único a ter consciência de sua Natureza, mas será que poderia controlá-la? Não, era difícil demais, seria impossível naquela noite!

Olhava para as suas mãos enormes, para aquelas garras, pensava por alguns segundos em seu tamanho, em seu peso, em sua força e na fragilidade daquela criatura... algo parecia não ser harmônico... não parecia encaixar-se... para quê tudo aquilo? Mas, mesmo com todas essas dúvidas, que surgiam, agora, cada vez como mais breves lampejos de lucidez, era compelido a avançar, sobretudo porque, à medida que aquela imensa bola branca avançava pelo céu, os instintos dominavam-lhe... era a sua natureza mais que animal, posto que animal já era, dominando-lhe... E estava cada vez mais perto.

***

Ela sabia que Ele estava chegando. Sentiu o coração acelerar e respirou fundo, limpou a mente e teve a certeza de que não era medo o sentimento crescente que se apossava dela, era a adrenalina de outro movimento iminente. As feridas ainda sangravam e ardiam, mas havia uma força crescente ali, que Ela sentia em cada músculo, em cada parte do corpo, mesmo na ponta dos dedos, pronta para ser usada.

Já podia ouvir a respiração dele, os passos pesados, cada vez mais próximos, cerrou os punhos e quando o ar ao redor tremulou bem perto dela, virou-se, Ela, sim, como nunca antes, com a sua própria ferocidade gritando dos olhos: você não me dominará!

***

Foi quando os olhos deles se encontraram. Um verdadeiro choque, cuja eletricidade parecia quase poder ser vista ou sentida. Ela e Ele, frente à frente, Mulher e Lobo. (Bela) Donzela e Fera. Priestess and Werewolf. Sacerdos et Profanus. Deusa e Demônio.

O olhar se sustentou agressivamente, ora instável, ora firmemente. E isso os fez estagnar, embora ambos estivessem prontos para o ataque, rodeando-se, em posição, defensivos e reativos.

***

Em frações de segundos, diversos pensamentos passaram pela mente Dela. Lembrou do porquê de estar ali, reviveu o momento em que a maldição fora lançada sobre aquelas duas raças, sujeitando as mulheres da espécie dela aos homens insaciáveis da espécie dele em dias de Lua Cheia e, mais ainda, de Superlua. Mulheres que sofreriam com uma sensibilidade extrema por toda a vida, cujo maior propósito seria levá-las a subjugar-se naquele momento. Homens como Ele, de uma raça inteligentíssima, sempre racionais, sujeitos àquele momento da mais animalesca irracionalidade inferiorizante. Lembrou de como fora ensinada e preparada para aceitar aquele momento. Lembrou de como via cada mulher voltar daquela noite destruída e, enquanto todas as olhavam com orgulho, Ela nunca conseguira compreender o que explica tamanha violência e aceitação... em todos os sentidos. Como podia aquela mesma Lua tão maravilhosa que a encantava ter sido usada como mote para aquela monstruosidade? Para encantar aquelas Mulheres e aqueles Homens e levá-los até ali? Mulheres Sacerdotisas da Lua e Homens-Feras, Bestializados... Eternamente amaldiçoados, vítimas de seus destinos irreversíveis.

E naquela noite chegara a sua vez. Tivera que ir, não resistira ao chamado da Lua e fora. Mas, surpreendentemente, lutara e saíra vitoriosa do primeiro ataque. Ataque, sim, era o nome daquilo! Mulheres de sua espécie gostavam de nomes bonitos, falavam em acasalamento, amor, paixão, encantamento. Para Ela, aquilo não poderia ter outro nome, senão um grande e covarde ataque. Ainda bem que levara consigo a adaga das iniciadas. Maculara a arma sagrada, mas não houvera outro jeito. E tudo sob aquela grande Lua testemunha. E com aquele ali... se vencera um, venceria aquele também. Poderia ser expulsa e condenada à morte, mas não se sujeitaria.

***

Ele estava agitado. Uma agitação diferente da agitação instintiva sobre a qual aprendera. Não estava certo o que estava acontecendo ali. Não fora assim que aprendera. Por que aquela criatura estava com as feições tão duras, reativas, e em posição de ataque? Ele é quem deveria atacar e Ela assustar-se e deixar-se dominar! E que força era aquela que conseguia refreá-lo, emanando apenas daqueles olhos profundos e vivos? Era uma belíssima criatura, de formas simples, mas de um magnetismo tremendo. Porém, isso Ele já notara desde antes; o que não notara e só agora reparava é que Ela tinha uma pequena arma na mão, suas roupas estavam rasgadas e Ela estava ferida... Mas julgava poder enfrentá-lo? Ele que era uma cabeça e meia maior que Ela, muito mais forte e cuja compleição física o habilitava especificamente para atacar criaturas muito maiores e mais ameaçadoras que aquela frágil pequenina?

Esses pensamentos iam e vinham, mas já estavam perdendo a sequência lógica, a irracionalidade dominava-lhe, os olhos ardiam num vermelho-brasa, o cheiro dela dominava-lhe a mente, mostrava os dentes, salivava, queria possuí-la e a teria de qualquer jeito. Por que Ela não facilitava as coisas para não se machucar tanto? E por que se preocupava com Ela?! Estava perdendo a paciência. Não tinha como dominar seus instintos... ainda que alguma coisa, alguma coisa naqueles olhos...

***

Os olhos dele eram irracionais, mas por isso Ela já esperava. Atacaria. Mas Ele parecia maior que o outro e isso a estava segurando durante aqueles segundos que já viravam minutos. Percebia a mudança e a perturbação que seu cheiro causava nele e, logo, logo, seria tarde demais. Por que não conseguia avançar? Com o outro fora tão mais fácil... mas havia algo... naqueles olhos... mesmo vermelhos e ameaçadores... havia algo naqueles olhos...

***

Foram os olhos. Foi aquele olhar que durou uma eternidade. E aqueles dois eram a prova viva de como os olhos são, sim, em qualquer situação, a janela (e o espelho) da alma. Aquelas Mulheres-Sacerdotisas e aqueles Homens-Feras jamais se olhavam firmemente nos olhos. Estes não se encontravam nunca, porque Elas os baixavam e Eles olhavam, mas não as viam, enxergavam apenas o que elas ali representavam, uma fêmea, uma caça, uma carne macia de cheiro apetitoso.

Mas Eles se olharam e, naquela situação completamente diversa do planejado, durante aqueles segundos-minutos-eternidades, mergulharam-se.

Ele viu a força dela, a coragem, a luta, a insubordinação, o medo unido firmemente ao poder que dela emanava.

Ela viu as incertezas dele, a luta contra o irracional, o apreço pela pessoa dela, não pelo que representava.

Ele sentiu vontade de compreendê-la e agir diferente.

Ela sentiu vontade de ceder a Ele, nem que fosse para se deixar compreender. Ninguém, jamais, o havia conseguido, sequer tentado ou imaginado precisá-lo.

Ela baixou a lâmina por um momento, porque os olhos dele pareciam diferentes, pareciam mais humanos do que selvagens. Ele acreditava que aquele ato marcado e repetido há tantos anos não deveria ser natural ou instintivo, só não imaginava ter forças para controlar-se e Ela, como controlara a si, sabia ser possível e disse-lhe com os olhos, transmitiu-lhe força, confiança e baixou a lâmina.

Ele sentia os impulsos, sentia-se em chamas. A cabeça latejava, o raciocínio falhava, mas Ele, o que havia mais dele que poderia haver, ainda estava ali e era a isso que se apegava. Estava fascinado pelo poder e encanto que aquela criatura emanava. Estava inebriado por aqueles olhos e para dentro deles queria jogar-se, lá parecia haver tantas respostas, certezas e segurança...

Estava em luta consigo mesmo. Tentando dominar-se, não poderia era desviar daquele olhar, sabia, tinha certeza, que, se assim o fizesse, perderia para si, para a Fera em si, no mesmo instante.

Ela já havia abaixado a lâmina e agora, espere, estava atacando, não, não poderia ser... não... estava... estava se aproximando?

***

Ela não sabia o que mais fazer para dar coragem e força a Ele contra si próprio. Sabia que estava em luta e queria ajudar. Mas como fazê-lo?

Foi então que, decida, mesmo com um algum receio, pois o passo seria fatal, aproximou-se, estendeu a mão e tocou-lhe o braço.

***

Ele uivou feroz e profundamente, porque uma energia imensa percorreu seu corpo, causando uma dor insuportável. Puxou o braço, mas Ela o segurou firme. Assustara-se, mas venceu o medo e tomou as duas mãos dele, forçando-lhe a olhar para Ela novamente e Ele conseguiu.

Estavam de mãos dadas, a Mulher e a Fera.

Então, uma grande mudança começou a operar. Os olhos dele eram humanos, estavam limpos e olhavam para os dela, com um brilho úmido de gratidão.

Era Ele que estava ali, não a Fera.

Ele se viu, aos poucos, mais perto dela, o que estava acontecendo? Estava ficando mais baixo, olhou para as mãos e viu os pelos diminuindo, as garras sumindo e suas formas humanas, era humano e já quase não se lembrava, voltando.

Ele era humano, apenas um homem, e Ela, uma deusa, apenas uma mulher.

Ele vencera e Ela... vencera muito mais que uma luta animal.

Ela estava diante de um homem, não de uma Fera.

Quando mergulhara nela, Ele acessara sua alma, não a lera, mas tivera vislumbres maravilhosos. Ela também. Admiravam-se. E, acima de tudo, respeitavam-se.

Não perceberam, mas após toda a transformação que se operou nele (e nela, porque jamais seria a mesma), ainda estavam de mãos dadas e a eletricidade incômoda dissipara-se. Era uma noite brilhante, silenciosa, de céu claro e limpo e agora... acalentadora e reconfortante. Um convite.

Abraçaram-se longamente. O corpo nu dele reagindo ao contato com o dela, ainda que através dos retalhos que ainda a recobriam. A Ela, as feridas não incomodavam, o corpo não doía mais. O sangue esfriava e estancava. O coração palpitava, mas num ritmo compassado, quase música.

Ele a tomou pela mão e a levou até uma pequena gruta onde estivera aguardando, nos últimos dias. Havia um cheiro forte de almíscar e canela que Ele usava para concentrar-se nas leituras e reflexões ainda lá dentro e uma palha recém-colhida que lhe serviria de cama quando retornasse. Ele a pegou no colo e a pôs ali. Buscou um pedaço de pano embebido em ervas para lavar-lhe as feridas. Sem perguntas, não havia necessidade. Ele a limpou e tratou e Ela não fez nenhum movimento para impedi-lo, confiaria a sua vida, agora, àquele encantador estranho.

Quando já estava quase acabando de limpá-la, curvado sobre Ela, Ela aproximou-se e o beijou e foi um beijo longo que significou apenas o prelúdio de uma noite maravilhosa de completude.

O fruto daquela união ímpar estava plantado e semearia...


***


Mas o destino não foi para sempre feliz para aquele casal, porque isso é uma lenda muito, muito antiga, uma história que um dia foi real, com pequenos acréscimos aqui e ali, mas não um conto de fadas...

O casal fugiu para que não a encontrassem e a punissem com uma morte lenta, sofrida e dolorosa em razão do assassinato que cometera naquela noite, quebrando anos e anos de acordos e tradições e maldições. Houve fúria, guerras e mortes, deixadas para trás, mas, naqueles tempos de magia e trevas isso era mesmo muito comum.

Ocorre que as feridas dela deixaram marcas profundas, marcas que a medicina das ervas não curavam, marcas de uma magia muito antiga e, pouco tempo depois que o quinto dos filhos deles desmamava, Ela se foi.

Ele ficou inconsolável, nunca mais teve outra e essa tristeza o consumiu por toda a vida. Dizem que morreu de amargura. Dos filhos, não se sabe ao certo, mas o sangue forte dele e dela não se esvaneceria assim.

E é por isso que hoje ainda se acredita na mística do fenômeno da Superlua e no seu poder não mais destrutivo, mas de operar grandes milagres de compreensão e encontro de almas.

É uma noite como não há igual. E os descendentes da Sacerdotisa da Lua e do Homem-Lobo ainda caminham por aí... em algum lugar... carregando consigo esperanças ainda que o fenômeno perdure, apenas tenha assumido outras formas, e a maioria dos homens e das mulheres guardem um pouco da antiga tradição em si. Mesmo com toda essa mudança dos tempos, mesmo que em corpos trocados e tudo o mais...

É o que dizem... e é você que escolhe em quê acreditar... ou não...

São os contos do Werewolf...


Salvador, 24 de junho de 2013
Carolina Grant

*De luar, não de lua, porque “vestida de lua” teria um sentido completamente diferente.


domingo, 9 de junho de 2013

Jogo de espelhos, mar bravio...



Jogo de espelhos, mar bravio

Caminhas à beira mar e sente o vento frio
Respingo-estilhaço úmido de lembranças
Sonhos espumas, fugidios
Brisa de renovação (sem fim).
Caminhas sozinho ao infinito e te encontras
Sentado à beira de si
Longe daqui, mais perto de ti
Profundo abismo de mim... 

09 de Junho de 2013
Carolina Grant 


sábado, 8 de junho de 2013

O Grande Encontro ou O Encontro das Estações...


O Encontro das Estações

Foi quando a última folha de Outono caiu
que todas as Estações se reuniram,
naquela memorável ocasião.

O pequenino Primavera fazia as suas graças de criança.
Os jovens do Verão resplandeciam...
em sua mocidade de sonhos, promessas e esperança.
Havia, também, o olhar já nostálgico,
os silêncios repletos de reticências e, claro,
as piadas ácidas do recém anfitrião Outono,
em suas representantes.

Mas foi o Inverno quem nos acolheu,
no aconchego de suas histórias e lembranças,
entre fotos, quadros, cartas, lágrimas e afagos (n'alma)...
E lá, no meio daquele grande encontro, estava Eu,
pairando ouvinte-espectador atemporal.

Dizem que durou uma semana.
Mas há quem diga, também, que durou meses, anos ou apenas algumas horas.
Dizem que foi por essa razão que houve sol no inverno e flores desabrocharam mesmo enquanto folhas ainda caíam...
Dizem tanta coisa...

Mas uma delas certamente aconteceu e foi/seria lembrada para sempre.
Foi nessa ocasião que o Passado foi (re)escrito, o Futuro (re)inventado e o Presente... (ah... que presente!)... este duraria uma Eternidade...

...

Imortalizado nas doces páginas do tempo.

Curitiba, 06 de junho de 2013
Carolina Grant

domingo, 26 de maio de 2013

A Liberdade como nunca vista



Uma manhã cinzenta de domingo e Fim ou
O fim de uma jornada – Em cacos, gotas e estilhaços

Acordara de forma estranha naquela manhã cinzenta de domingo.
Algo parecia ilusório e onírico, embora o branco das manhãs de chumbo incomodasse-lhe os olhos e lhe trouxesse fragmentos indesejados de realidade.
Acordara oca. Algo faltava. Quebrara.
Levantou com aquela estranha (não deveria já ser confortável?) sensação de incompletude e foi ao levantar da cama que percebeu.
Esvaíra-se em cacos. Estilhaçara-se.

O sangue escuro brotava, porque ferira-se com os seus próprios cacos.
Acordara em pedaços, cacos de si espalhados por todos os cantos do quarto, ferindo-lhe os pés, as mãos, os sonhos e a esperança.
Olhou para o peito oco ao espelho. Impossível reconstruí-lo.
Olhou para os olhos opacos. Impossível lubrificá-los, sorri-los ou resgatar-lhes o brilho.
E a cada minuto mais um pedaço da ilusão que construíra de si, mais um pedaço de tudo o que era ruía e estilhaçava-se ao chão.

Era (ou poderia ser) uma Mulher aos pedaços. Um poço de sentimentos cristalizados e estilhaçados.
Um vazio de sonhos e sentimentos.
Uma opacidade imensa.
Um abismo próprio.
Uma caminhante em fim de jornada.

E, caminhante que era, caminhou por entre os cacos. Deixou-se ferir a cada lembrança.
Admirou os mais brilhantes, pedaços de sonhos reluzentes.
Não evitou os mais sombrios, cortantes e pontiagudos. Foram eles, também, que a constituíram e levaram-na a brilhar até a noite passada, quando atingira o auge de sua existência.
Todos aqueles pedaços tinham o seu valor. Um valor inestimável.

Foi, aos poucos, juntando um a um.
Cada um que caía era cuidadosamente coletado e colocado, gentilmente, numa caixa de veludo escuro.
Levou todos consigo para a banheira.
Sentou-se, confortavelmente, com a caixa no colo.
As feridas já não lhe incomodavam. Fizeram parte de toda a sua existência e não lhe impediram de sorrir e brilhar.
Ali haveria espaço para que se despedaçasse sem perder nenhuma parte do que fora.

E então o pedaço mais luzidio de todos, o mais belo, mais bem talhado, de material nobre e resistente, afiado como um punhal, belo como o último ocaso de uma vida plena, cedeu...
Ela o pegou, o olhou e admirou... ele ainda pulsava, mas ficava mais lento a cada instante.
Aquele caco pulsante valera-lhe a Vida.
E foi em lágrimas cristalizadas que, abraçada àquele melhor pedaço de si, ela se despediu... numa manhã cinzenta, mas inebriante em seu branco pálido manchado de púrpura.
Em cacos, gotas e estilhaços...

Seu nome era Liberdade.

26 de maio de 2013
Carolina Grant

quarta-feira, 1 de maio de 2013

One more dream, dear... in the distance.


One more dream, dear... in the distance

Em cada olhar, um infinito sereno (notastes?)
Em cada minuto, uma eternidade passageira ((que) passará)
Em cada passo, uma acalentadora certeza (saberás...)
Em cada sorriso, uma plenitude de compreensão (acalma-te)

Pois só o tempo sabe quando é o tempo certo (espera)
Nós simplesmente precisamos acreditá-lo (não te preocupes)
E ele nos dará um coração aquecido (verás!)
Então, até amanhã (só até amanhã, o nosso amanhã)...
Adeus...

Notastes?
Passará! (no tempo certo) Saberás.
Acalma-te...
Espera... e...
Não te preocupes, verás!
Só até amanhã, o nosso amanhã...
Virá. 

Carolina Grant
(02/05/2013)




terça-feira, 26 de março de 2013

A Assassina Convidada ou... A Convidada Inesperada


A Assassina Convidada

Foi mesmo à queima roupa.
Sem meandros, sem melindres, sem discursos.
Não, não foi como final de filme de herói.
Ela não fez o discurso dos vilões (sequer saboreou a vitória ou o prazer de ver o horror da compreensão nos olhos outros; não precisava...).

Não, não foi como um tapa na cara
Ou um soco no estômago.
Mas fria como aço.
Cortante como uma navalha... (daquelas bem preparadas).

Foi rápida, não durou mais que alguns segundos.
Eficiente e certeira, não deixou dúvidas sobre o resultado.
Mas aquele momento duraria por toda uma eternidade.
Os gritos de injustiça e horror podem ser ouvidos até hoje (nas noites mais frias e escuras de Agosto).

Doeu uma dor conhecida.
A dor de todas as dores 
Dor já há muito doída
Em incontáveis casos como esse, cotidianos.

...

É, foi mesmo a queima roupa.
Covarde como todas aquelas que chegam sorrateiras (quando não são bem-vidas) ou simplesmente surpreendem (quando gentilmente convidadas).
Desestruturante, como tudo o que é absolutamente inesperado.
Fatal, como tudo o que nos rouba (leva a) o chão e o Sentido.

Quando virou as costas ao corpo que se esvaia em sonhos ao chão 
Foi que pude identificá-la.
Claro... cruel, silenciosa, fria e fatal,
Só poderia ser ela a Convidada inesperada:

Veritas...
   Verité...
       Verità... (Vendetta?)

                                             Verdade.

Carolina Grant
(26/03/2013)